domingo, 15 de abril de 2012

A fórmula do sofrimento não existe

Eu queria ter a fórmula que resolve todos os problemas, que sarasse todas as dores, que liquidasse o sofrimento. Eu queria que fosse uma fórmula simples. Não queria ela apenas em meu poder, porque com o tempo aprendemos a não desejar essas coisas a ninguém. Mas lamentavelmente não tenho. Imagina que nem os meus problemas, minhas dores e sofrimentos eu consigo solucionar. Mas eu aprendi que essas sensações são únicas e individuais, não existe o que digam ou façam, só você pode encarar isso e sozinho. O grande problema é que o sofrimento quando dói beira a dor física, sem dorflex que resolva. É ficar ali, numa atitude masoquista sentindo a dor e aprendendo com as chicotadas que ela nos dá. O bom é que eu já aprendi que não existe "tempestade que dure a vida toda" e que depois de todo o sofrimento, o gostoso é saber que a lição é valiosíssima, pois nos amadurece e muito. Quanto à fórmula... Acho mesmo que não existe fórmula, é só sentir e fazer disso um crescimento, já que é inevitável passar por esse processo.

Amo porque se não amar, não vivo


Eu falo do amor, como se o amor fosse me curar do mal de ser tão desgraçada assim. Eu andei fugindo de senti-lo, justamente porque sei o mal e o estrago que ele faz. De certa forma andei me esquivando do sofrer. É amar é uma delicia, mas o que ele causa é um estado do qual fujo incansavelmente. Mas por vezes estamos lá rendidos a uma loucura completamente lúcidos de seu trágico fim. Como somos bobos. Como sou boba. Eu tropeço na pedra e passando novamente pelo mesmo caminho, sabendo exatamente onde a pedra se encontra, faço questão de tropeçar novamente nela. Porém existe algo que me redime, todos de certo modo foram criados para isso, para serem assim. Todos foram criados para incansavelmente ter fé no amor. Se não fosse assim nada justificaria o amor de uma mãe, que mesmo quando seu filho está completamente errado ela o ama, o acolhe e apóia. A gente vive numa encruzilhada, essa que é a verdade, de um lado o amor, do outro a solidão, do outro os sonhos e do outro o nada. Sim cada um deles leva pra um lugar diferente do outro. Passamos a vida toda tentando junta-los para que possamos seguir com todos juntos. Queremos amar, mas de forma um pouco egoísta valorizando nossa solidão, sonhando loucamente e com nada se preocupando. Grande e verdadeira tolice. Os quatro tomam caminhos distintos e jamais se juntarão, é preciso deixar alguns pra trás e escolher apenas um caminho. É ai que justamente erramos, porque tentamos juntar todos. Mas fazer o que, esse é o quadro que bem nos define. Mas eu fujo disso. O máximo que posso, é claro. Mas fujo. É uma guerra árdua entre mim e o amor. Travamos batalhas intensas e intermináveis quando ele, de forma malandra, quer dominar meu coração. Dificilmente venço. Não que eu não seja forte. E sim porque eu gosto do gostinho do amor, mesmo sabendo que ele me fará sofrer. Ai alguém irá dizer “mas não é em todos os amores que sofremos não, uma hora você encontra alguém que não te fará sofrer.” Até pode ser. Mas as pessoas lamentavelmente se esquecem que o amor vem acompanhado de uma boa dose de sofrimento que acarreta no amadurecimento que nos faz aqueles velhos de cabeça branca, “chatamente” verdadeiros. A voz da experiência. E todos com medo de envelhecer, mas dizem que é bom. Então chego à conclusão que não sabemos amar, ou será que amar não é bom? Confuso. O certo mesmo é que o amor vem acompanhado de sofrimento. O bom é que passamos a vida amando, de varias formas, varias pessoas. Afinal o que seria de nós, se pudéssemos amar apenas uma vez? Seriamos objetos da vida. Vegetaríamos pelos cantos chorosos, porque é certo que não acertamos de primeira. O amor é uma constante e louca tentativa. Quem já não passou pela sensação do coração acelerando, um frio na barriga, dormir com um sorriso bobo no rosto com as lembranças de alguém amado, fez planos para o futuro com alguém por quem está apaixonado, isso tudo varias e varias vezes na vida? Acho que todos de alguma forma. Diante disso eu sei que não adianta fugir, amar é o clichê que nos acompanhará eternamente, de varias formas, mas acompanhará. É meio que a bandeira que hasteamos todos os dias com a frase “amo porque se não amar, não vivo.” Somos os grandes bobos da corte, amando a donzela virgem chamada “amor”, esperando por ela do lado de baixo da janela, brigando com o mundo por ela e a perdendo e encontrando constantemente. É a vida. Nós nascemos para amar, porque amar justifica o fato de existirmos, já que para nascermos precisou que nossos pais amassem. Amar é uma missão de sobrevivência e por isso o levamos tão a sério. Mas eu fujo. Ai de mim que fugirei e me encontrarei com o amor por diversas vezes na vida.  

sábado, 14 de abril de 2012

Vampirismo social


Era eu e aquela mesa. Aquela mesa e eu. Fiquei confusa tentando entender quem estava no caminho de quem. Era lamentável aquela situação. Uma mesa tão pesada que não me deixava saídas. Era ficar ali esperando o meu desfecho naquele imundo lugar. Já tinham se passado cinco dias que eu chegando em casa fui pega por homens encapuzados. Três grandes homens. Talvez nem fossem tão grandes assim, mas com minha franzina forma física aqueles homens pareciam gigantes. Tudo bem que eu era figura constantemente presente nas colunas sociais de importantes jornais, mas tudo aquilo não passava de aparência. Eu era uma fodida. Vivia de sugar as grandes e verdadeiras almas da elite social para conseguir alguma aparição. Eu vivia constantemente na tentativa de ascender socialmente. Eu era um lixo. Sendo assim, por que justamente eu seria seqüestrada? Coitados daqueles grandes homens, muito músculo e pouco cérebro. Dizem que quando se prepara um seqüestro a vitima é pesquisada. Procuram saber seus hábitos diários, seus bens materiais e a real possibilidade de um bom valor de resgate. Mas eu não tinha nada e nem ninguém. Eu era uma fodida que morava em um apartamento emprestado de Copacabana. Se aqueles homens queriam ganhar dinheiro com o meu resgate estavam na merda. Pior pra mim. Como iria sair dali? Não existia uma alma viva que poderia me socorrer. Na alta sociedade é assim, você aparece do lado das pessoas sorridente. Posa para as fotos como se fossem amigos íntimos. Tudo uma grande e tola mentira. Talvez nem soubessem quem eu era depois de cinco dias desaparecida. Quem sentiria falta de uma vampira social? Absolutamente ninguém. Eu gritei nas primeiras doze horas de reclusão. Fiz as mais idiotas negociações com alguém que eu nem sabia se de fato estava do outro lado daquele lugar imbecilmente montado para aquela ocasião. Um quadrado de mais ou menos nove metros quadrados, com uma privada tão suja quanto um bueiro e um colchonete jogado em um dos cantos. Ah já ia me esquecendo, a mesa, a maldita mesa que me prendia naquele momento em um dos cantos. Mais nada. Era eu e toda aquela bizarrice. Foi então que em um acesso de loucura eu tentei fugir. Subi na mesa e tentei passar pelo buraco que deixava entrar alguma luz naquele lugar. Em vão. Sequer consegui chegar até o buraco. Era alto demais. Cai e a mesa caiu por cima de mim extremamente pesada. Não sei se por conta da franqueza em que me encontrava ou realmente pelo peso daquela idiota mesa. Eu estava ali, presa em um dos cantos sem sequer poder me aproximar do prato, de uma comida nojenta, que era colocado por uma abertura no final da porta todos os dias. Definitivamente era meu fim. Busquei um ultimo fôlego que achei que tinha e soltei um grito de socorro. Ninguém atendeu. Depois de tanto esforço para tentar sair daquela situação acabei adormecendo. Não faço idéia de quantas horas dormi. Só sei que incrivelmente dormi sono pesado e até gostoso. Acordei já com a luz entrando pela fresta do único buraco que existia naquela sala. Foi nesse momento que me descobri confortavelmente deitada sobre o colchonete. Passei a mão nos olhos e devagar fui olhando ao redor. Lá estava a mesa no mesmo canto de sempre. Então cheguei à conclusão de que tudo não passou de um sonho doentio e louco. Já não me bastava à desgraça de ter sido seqüestrada sem motivo algum pra isso, ainda tinha que ficar sonhando com mais desgraça. Minha vida estava uma completa merda e eu ainda conseguia dormir sono pesado. O que fazer? Alguma vantagem eu tinha que tirar daquela situação. É eu era uma fodida que tentava a todo custo subir usando o brilho alheio experimentando o fardo de quem pertence à nata social.
  

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Jean Charles, Robson Terra e um lamentável luto


Olhando a história de Jean Charles, o brasileiro assassinado em Londres e o homem de quarenta profissões Robson Terra figura ilustre de Juiz de Fora, Minas Gerais, eu fico pensando em como a vida tem suas surpresas desagradáveis por vezes. Esses dois casos ficaram na minha cabeça. O primeiro por ter visto o filme que produziram contando a história e o segundo por ser uma pessoa da minha cidade e as redes sociais comentarem a respeito com seus alunos e amigos deixando mensagens de despedida. Não que a morte me assuste. Pelo contrário, acho a morte a coisa mais maravilhosa que todos teremos a oportunidade de desfrutar, sendo até mesmo um refúgio para nossa cansativa jornada em vida. O que me choca é que as duas histórias são distintas em si, mas duas histórias lindas que se ligam pelo seu desfecho, a morte súbita.
Jean era um menino de uma cidade pequena de Minas Gerais, Gonzaga, vivia de forma simples, mas tinha um sonho que é, acho eu, o da maioria das pessoas, o famoso “vencer na vida.” Ele saiu do Brasil no intuito de trabalhar em Londres e quem sabe assim conseguir estabelecer um padrão de vida mais confortável para sua família que ficara. Mas, pelo que li a respeito, ele mesmo não queria voltar. Londres era seu ‘Oasis em meio ai deserto’, seu começo e nunca seu fim, pelo menos em seus sonhos. Menino simpático, menino de sorriso fácil. Ajudava a todos que podia, tanto que levou e abrigou dois amigos e uma prima em seu apartamento. Dava as pessoas que queriam desbravar além fronteiras o que chamamos de “ponta pé inicial.” Além de casa que ele oferecia, dava também a ajuda no primeiro emprego. Como todo jovem também se envolvia em algumas confusões, que seu coração nobre sempre o fazia se arrepender logo. Um pouco antes de morrer havia se envolvido em um incidente com dois colegas do trabalho, isso provocou sua demissão. Ele passou um tempo aceitando o trabalho que surgia até que conseguiu um para trabalhar com o que realmente sabia fazer. Ele era eletricista. Em uma manhã turbulenta em Londres por conta de atentados terroristas nos metrôs, Jean sai de casa feliz porque tinha conseguido um emprego “decente.” Na primeira estação é barrado na entrada porque ela estava fechada. Corre o máximo que pode para outra. Quem vive em Londres ou já esteve lá sabe que é fornecido em todas as estações de metrô um jornal que as pessoas têm a oportunidade de ler durante o trajeto e onde descer coloca novamente na urna de jornal para que outras pessoas possam ler. Jean pegou um jornal antes de entrar no metrô, entrou e se sentou. De repente é surpreendido pela policia. Em tempos de ameaça terrorista todo cuidado é pouco para uma nação afetada de forma violenta pela covardia terrorista. Jean, acredito eu assustado, reage sem entender ou até mesmo cogitar que seu ato era a assinatura do seu atestado de óbito. Confundido com um terrorista é atingido pelas costas. Londres naquele momento se tornava seu começo e seu fim. Lamentável fim. Um sonho interrompido de forma brutal e dolorosa. Não só pela pouca idade dele, mas também por como aconteceu.
Até esse ponto você deve estar se perguntando o que uma história tem a ver com a outra. Pois eu digo.
Robson terra, 57 anos, nascera também em uma pequena cidade no interior de Minas Gerais, Chácara, se consta no mapa nem sei. Cresceu em meio à simplicidade da vida daquela pequena cidade. Como ele mesmo dizia “eu descobri a criatividade como forma de sobrevivência.” Amado por seus alunos, amigos e parentes. Homem distinto da sociedade. Guerreiro. Vencedor. Não encontrou na pobreza uma limitação para fazer melhor e diferente. Ator nos palcos dos teatros, TV, praças, aldeias e onde mais fosse preciso. Defendia a arte como fator indispensável para uma boa vida. Protagonista de sua própria e nobre história de vida. Superou a si mesmo e seu possível destino, fazendo bonito em vida. Um homem homossexual como poucos que existem. O grão capaz de fazer diferença no meio de tantos grãos de areia que são os seres que habitam a “praia” chamada terra. Um verdadeiro, digno e maravilhoso exemplo. Acorda como em todos os outros dias. Homem agitado como só ele, sempre muito ocupado por seus afazeres, passa mal e é levado ao hospital. Uma tentativa foi feita para reanimá-lo após a parada cardíaca. Em vão. Dava-se assim o fim de uma brilhante história de vida. Luto absoluto nas redes sociais, destaque dos jornais locais. Juiz de Fora perdia um cidadão ilustre, os amigos um companheiro leal, os alunos um mestre sábio e dedicado, a vida um dos seus maiores guerreiros.
Jean Charles e Robson Terra ligados pela lamentável interrupção de suas vidas que ainda tinha muito para ofertar.
Essa é a vida brincando um jogo estranho, onde ganhamos por um longo período, mas quando ela ganha é fatal.
Você perde em algum momento para a vida e se rende de forma às vezes brutal e inesperada a morte. Essa é a maior certeza. A morte um dia dará ‘suas caras’ para todos. A morte é o preço da vitória da vida sobre nós.
Jean e Robson, duas vidas subitamente “perdedoras”, se rendendo a morte.
Os motivos importam para os que ficam lamentando e tristes. Para quem vai não faço idéia do que acontece, do lado de lá é um mistério profundo.
Nesse jogo louco que somos obrigados a jogar com a vida, acredito que é necessário degustar como se degusta um bom e caro vinho as vitórias diárias. Valorizar com intensidade cada respirar. É preciso ter sangue frio para vivenciar o gostinho de vitória diário, tendo a certeza que em algum momento perderemos.
Eu uma entusiasta da morte, sua admiradora e quase uma amiga peço apenas uma coisa quando chegar a minha hora de perder, PAZ.

*Que Jean e Robson sirvam de exemplo de como se deve viver com intensidade cada momento da vida e fazer sempre o seu melhor em tudo.   

terça-feira, 10 de abril de 2012

Viva a liberdade

"Democracia = ("demo+kratos") é um regime de governo em que o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos (povo), direta ou indiretamente, por meio de representantes eleitos — forma mais usual.”
O Wikipédia cita a democracia falando sobre política, mas é muito comum as pessoas usarem isso em outros meios. Porém eu categoricamente afirmo que as pessoas desconhecem o real teor da liberdade que existe na palavra D-E-M-O-C-R-A-C-I-A.
Me valendo novamente do bom uso que faço de me informar, o Wikipédia diz que liberdade de expressão significa:
“é o direito de manifestar livremente opiniões, idéias e pensamentos. É um conceito basilar nas democracias modernas nas quais a censura não tem respaldo moral.”
Mas constantemente vemos esse nosso direito sendo infligido pela maioria que a tudo tenta padronizar. Se você diz o que pensa e não condiz com um rotulo (que julgo imbecil) socialmente aceito, você é descriminado, excluído quando não ofendido.
Mas isso não fica só na questão de expressão, quando a pessoa não se permite corromper pelas idiotas regras sociais ela ainda vence essa barreira.
Porém encontramos outro ponto muito importante, a liberdade religiosa que é esclarecida da seguinte forma pelo Wikipédia:
“A liberdade de religião e de opinião é considerada por muitos como um direito humano fundamental. A liberdade de religião inclui ainda a liberdade de não seguir qualquer religião, ou mesmo de não ter opinião sobre a existência ou não de Deus (agnosticismo e ateísmo). A liberdade religiosa se o põe diante de todos suas idéias e principalmente seguimento do próprio ser humano.”
Mas nossa sociedade meramente preconceituosa desenvolveu em seu sistema um conceito basicamente assim ‘se você não acredita em deus é julgado como ruim.’ Abordo isso desta forma justamente por me considerar fora desses parâmetros religiosos e ser julgada muitas das vezes desta forma. Não foi um ou duas vezes que pessoas disseram que deus iria me castigar por não acreditar nele, chegando ao ponto de uma vez o comentário ser o seguinte “Que isso? É tão bom crer em um deus que faz o melhor por nós. Tome cuidado que isso pode ser cobrado de você.” Meu questionamento foi, como um deus que só quer o melhor pra você, que é tão bom pode te cobrar ou pesar sobre você, sendo que foi ele mesmo quem te deu a liberdade para escolher no que acreditar ou não? Eu não posso crer em um deus tão contraditório assim.
Mas meu argumento aqui fica sobre como as pessoas são mesquinhas e vazias quando algo vai contra o que ela acredita. Será que as pessoas não estão preparadas para viverem em comunidade e entender que existe não só diferenças físicas, mas também diferenças de pensamento? Ou será que as pessoas têm essa consciência e simplesmente não querem fazer bom uso dela, pois é mais fácil acreditar no que a maioria acredita e por isso quem vai contra é considerado um idiota? Sim eu afirmo que não é fácil quando se pensa diferente e ir atrás de criar respaldos para o que pensa e se informar. Realmente é mais fácil ter alguém pensando por nós e seguindo exatamente à cartilha de alguém que te diz que algo é verdade. Isso tudo é simples e fácil demais, porém é necessário que se prove qualquer coisa. Eu ainda me assusto quando vejo pessoas que acreditam em algo que não tem a menor comprovação ou que se julga melhor do que o outro por conta do seu tolo pensamento.
Em todo esse contexto é importante salientar que as pessoas têm respaldo da lei para pensarem e crerem no que quiserem.
“A Constituição Federal, no artigo 5º, VI, estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias. O inciso VII do artigo 5º estipula que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”
Esse trecho da constituição afirma que não existe uma única religião a ser seguida, que a pessoa tem total liberdade para seguir o que ela quiser ou até mesmo não participar de nenhuma religião. Se a justiça não me pune por minhas escolhas quem são as pessoas que não tem vinculo algum com a justiça para me punir? Ninguém!
“Constituição brasileira de 1988
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: V - o pluralismo político
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, liberdade, igualdade, segurança e a propriedade, nos termos seguintes:
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença
Art. 220º A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
§ 2º - É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.”
Esse trecho da constituição afirma que sobre qualquer circunstancia a pessoa tem seu direito respaldado pela lei de se expressar. Lembrando que para expor seus pensamentos não é necessário ofender. Mas para me expor um pensamento e querer que eu faça uso dele, é necessário que me esclareça o porquê eu deveria usá-lo.
Eu faço bom uso da minha razão, tento usar ao máximo minha capacidade de pensamento e minha inteligência. Procuro me informar antes de me achar capaz de expor ou até mesmo convencer alguém de que o que penso é correto. Isso nunca foi e não é pecado ou um erro.
No facebook faço parte de uma comunidade chamada ATEIA – Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, vejo que lá se encontram muitos erros com relação a ofender outras religiões, deixo claro aqui que não concordo com esse tipo de postura, mas lá tenho abertura para expor esse fato, como deveria ser em qualquer comunidade.
Questionar e ter dúvidas não faz de mim uma tola revoltada sem causa, mas sim alguém que usa seu raciocínio a seu favor.
Vivemos em um país democrático, com diversidade étnica, com liberdade religiosa, com liberdade de expressão. Estamos em um caldeirão com uma grande mistura de tipos e pensamentos, acho que já passou da hora de vencermos a barreira do preconceito de um só pensamento, uma só verdade. Não existe padrão no que se trata ser humano. Existe caráter, que nada do que disse acima exime alguém de tê-lo e o desobriga a usar. Eu me informo sobre outras culturas e países, pois gosto de saber como funciona, mas isso não me da o direito de julgá-los como melhores ou piores do que o meu. Conheço uma senhora Libanesa que me ensinou uma coisa muito valiosa e usarei suas palavras agora “As pessoas inventaram que as mulheres mulçumanas são infelizes diante de como vivem, não conhecem de fato a nossa cultura, nem tudo lá é morte, guerra, devassidão ou até mesmo repressão. Eu sou feliz sendo mulçumana e seguindo a minha cultura na qual acredito.”
Temos que parar com a tola idéia de que apenas nosso “mundinho” é o valido ou o melhor, existe muitas coisas nesse mundo que podem ser mais interessante do que o que temos como importante ou fundamental. Já que nascemos ou vivemos em uma sociedade democrática devemos fazer valer isso sobre qualquer aspecto. Julgo moral como aquilo que fazemos sem ofender ou até mesmo desmoralizar alguém. Usemos nosso direito a democracia em demasia, pois é isso que nos faz de fato comunidade.
Para finalizar deixo aqui uma frase que sempre uso.
Aquele que se ofende com um questionamento carrega consigo “verdades” que não acredita ou não sabe como defender.

Bem eu

A minha forma de dizer as coisas pode não ser a mais perfeita, dizer que sou humana e se deve a isso o fato de às vezes ser grossa já tá ficando redundante. Mas eu posso garantir que sou sensível o suficiente para querer por muitas vezes voltar atrás e refazer certos momentos. Já outros eu toco o foda-se mesmo. Quando eu gosto corro atrás, tento corrigir meus erros quando os cometo e digo que amo porque a vida é curta demais e se você ouviu isso de mim tenha certeza que foi verdade. Eu queria ter o poder, mesmo sabendo que ele me tornaria uma idiota, de agradar a todos, mas não tenho. Portanto me prendo ao que posso sustentar. Não defendo filosofias ou pensamentos que não me apetecem, mas aquilo que acredito, primeiro me embaso e depois vou até o fim pra defender. Meus amigos, aqueles que realmente tenho consideração por eles, defendo até a morte, mas saibam que isso não faz de mim uma idiota que vai abaixar a cabeça ou concordar com tudo que você diz. Eu sou carinhosa e tenha certeza que vou tentar até as últimas conseqüências defender nossa relação caso ela sofra algum 'impacto', mas eu sempre vou precisar da sua vontade pra isso, vou precisar de você, meu amigo, para que as coisas se restabeleçam. Aos meus amores digo comigo não rola altruísmo no amor, tem que ter reciprocidade. Se essa minha lógica não te agradar, sinta-se livre pra me dar o famoso "pé na bunda", o receberei feliz por não ter que viver uma relação pela metade. Caso queira encarar a difícil missão de viver com minha pessoa saiba que eu sou intensa, me entrego de verdade quando quero, do tipo que faz qualquer coisa pra ver o sorriso do parceiro. Sou amiga, leal, gentil, companheira e extremamente sincera. Juro, não é propaganda enganosa. (Rs) No mais em tudo nessa vida eu não me torno refém de nada. Seja de momentos, amigos e amores. Perdôo com a mesma facilidade que erro. Eu sou meio oito ou oitenta. Minhas visões de mundo não são criadas em uma mesa de bar no final de semana com algumas pessoas. Minhas visões de mundo são criadas com base em minhas experiências, muito estudo e uma mente aberta que me permite ver o mundo sem limites, regras, preconceitos ou 'achismos'. Eu sou completamente azeda por vezes. Amo com a mesma facilidade que mando tomar no cu (eu xingo pra caralho). Sou leoa quando tenho que defender meu orgulho e sou uma camaleoa quando preciso me adaptar a vida e suas mudanças constantes. Falo de sexo de forma livre, mas confunda isso com ser puta pra ver, ai eu viro a perfeita personificação do capeta (No sentido ruim de o ser.). Eu debato sobre qualquer assunto, religião, futebol, política, etc. sabe por quê? Porque ao contrario da maioria das pessoas eu tenho minhas opiniões sobre todos os temas e sei que em um debate sadio, com a mente aberta podemos trocar maravilhosas informações e com isso eu cresço, fazendo valer assim minha chance de evoluir. Enfim, dizem que sou autentica. Pode ser. Mas eu apenas sou uma menina que entendeu direitinho que todos os dias aprendemos algo novo e que isso acontecerá até que a morte venha me encontrar, porém esse período de aprendizado que chamo de vida, é curto demais e por isso deve ser aproveitado com a intensidade em sua máxima potencia.

Eu era um cara mau


Eu sempre tivera medo do escuro. É incrível a quantidade de coisas que você consegue pensar de ruim durante o escuro. Todos acabam se tornando paranóicos diante do escuro. É triste, muito triste como você fica refém no escuro do pensamento. Comigo não era diferente. Por mais que eu fosse um cara mau, sim eu era muito mau, eu ainda era humano e claro tinha um ponto fraco. Meu ponto fraco era o escuro. Eu vivia sozinho naquele quarto de pensão alugado. Um sofá pequeno e velho, completamente rasgado, onde também me servia de cama, não sei como ainda conseguia me erguer por completo sobre as pernas, todos os dias acordava com o corpo completamente dolorido, um banheiro que desconhecia limpeza, eu odiava limpar as coisas, sempre achei que tudo tinha um charme a mais com o aspecto de sujeira, talvez por isso eu vivesse sujo, um fogão velho, com uma panela, um copo e um prato de plástico. Ainda tinhas meus trapos que eu dignamente chamava de roupa. Esse era o lugar que eu chamava de casa. Minha vizinhança estava longe de viver em melhores condições que eu. Mas honestamente não me interessava como eles viviam. Eu era mau porra. Eu botava medo fácil demais. Aliás minha cara suja e com uma enorme cicatriz na testa facilitavam esse processo. Só sei que quando eu passava pelos corredores da pensão, as pessoas se recolhiam as pressas. Isso era fascinante pra mim. Eu passava como um rei pelos corredores da pensão e não só ali. Minha fama já se fazia prevalecer por toda a cidade. Mas como qualquer outro eu tinha um ponto fraco. O meu ponto fraco era o escuro. Eu não dissera isso para ninguém. Esse era meu segredo mais secreto de todos. Eu não saberia conviver com a decadência da minha fama de cara mau. Em um dia nublado, lá estava eu no bar do Quincas, o único cara no mundo que tinha meu respeito. Ele conseguia me parar apenas com um olhar. Não que eu tivesse medo dele, Quincas era tão magro que o vento era capaz de carregá-lo. Eu tinha mesmo era o maior respeito por aquele cara que me recebia em seu bar como um cliente normal por tantos anos. Ele me vira se transformando no cara mau que eu era. O Quincas era um cara bacana. Pois bem, eu estava no bar do Quincas em um dia nublado. Tudo certo como sempre, pedira a Quincas meu drink normal e que já era meu habito beber. Tudo estava completamente normal. Eu bebia tranquilamente meu copo de cuba libre quando a luz acabou. Caramba eu era o fodido que tinha medo do escuro naquele momento. Tudo era um completo breu. Até na rua a luz havia acabado. Quincas gritou “Pessoal pode ficar tranqüilos porque eu vou buscar umas velas já.”. Isso não amenizou meu medo. Porra eu era refém do escuro. Eu já estava debaixo da mesa naquele momento. Quando minha mão tocou o chão senti que tinha alguma coisa em que eu tinha colocado a mão sem querer, o bar do Quincas estava longe de ser conhecido pela limpeza exemplar, eu dei um salto, joguei a mesa pro ar e estava gritando, pulando feito um idiota quando a luz voltou. Todos me olhavam sem entender nada. O cara mau estava lá igual um bosta gritando e pulando com medo de alguma coisa. Eu não conseguia me conter, não conseguia me acalmar. Com os olhos fechados não percebi que a luz havia voltado. Demorou um pouco para que me desse conta. Na verdade só dei conta quando ouvi as pessoas rindo compulsivamente. Abri os olhos devagar e fui percebendo o ridículo em que me metera. Eu era um bosta que tinha medo do escuro. Caramba, acabara de perder todo o meu respeito daquelas pessoas. Tirei um dinheiro do bolso, coloquei sobre o balcão e sai o mais rápido que pude do bar. Enquanto acelerava meu passo um pensamento me aterrorizava ‘Não posso voltar tão cedo no bar do Quincas.’ Eu amava aquele bar, era uma da poucas alegria que eu tinha. De qualquer forma precisava esperar um tempo, seria melhor pra minha reputação. Eu caminhava e uma lágrima escorria, tratei logo de enxugar e me recompor. Eu era um cara mau, não havia lugar para fraquezas. Eu tinha o medo das pessoas. Quanto aquilo que eu coloquei a mão embaixo da mesa, não faço idéia do que era, acho que é melhor assim.
           

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Um conto


Um conto intenso
Os riscos extremos
As mãos unidas
Uma ponte bamba de madeira
O medo do desconhecido
Uma súbita crise de ansiedade
O medo da perda existindo
Como se perde o que é seu por merecimento?
O trágico gosto de ser humano
Uma maré gigante
Os corpos entrelaçados
Um abraço forte
O mundo sorrindo mesmo não querendo
‘É amor ’_Diz o intimo
Nenhuma pretensão de que exista
Arrebatados em corpos nus
A descoberta
Sempre se pertenceram
A verdade enfim
É esse o tal destino
O desfecho
Loucamente felizes
No mais?
Páginas em branco escritas a mãos crédulas

Relatos de uma bêbada digna

Eu acabara de entrar naquela livraria nova do bairro onde morava. Uma livraria como qualquer outra com a diferença de que com a nova tendência, existia um café onde podíamos comprar um livro e ler enquanto degustamos um café caríssimo. Uma grande bobeira. Eu estava na sessão de livros estrangeiros. Apetecia-me mais livros estrangeiros, talvez eu não fosse tão a favor do meu país e de sua cultura. Que se foda, meu país também não era tão agradável assim comigo. Pois bem, olhava um livro que me interessou pelo titulo “Histórias de uma puta de luxo.” Quando aquele homem me interrompeu.
_Olá!
_Olá_ Eu estava em um bom dia, o suficiente pelo menos para um “olá”.
_Você é Tereza Santos?
_Sou sim, por quê?
_Já li alguns artigos seu na revista. Admiro muito sua escrita.
Oh deus eu era de certa forma famosinha, mas o que fazer com o meu azedume de quem não gosta de contato com seus leitores? Respirei fundo e como de certa forma aquele homem me interessava, permiti um pouco mais de educação.
_Ah sim, obrigada.
_Posso te pagar um café?
_Oi?_Perguntei como quem não tivesse entendido o convite.
_Posso te pagar um café? Juro que não tomarei muito do seu tempo.
O que fazer nesses momentos? Eu poderia mandar ele ir a merda e recusar, mas de um jeito estranho aquele homem conseguia tirar de mim alguma gentileza.
_Oh, tudo bem. Mas gostaria que não fosse aqui e se possível no lugar do café me apetece mais uma boa dose de rum._Já que ele tinha interesse em pagar, não me custava tentar que fosse o que realmente estava afim de beber.
_Claro.
Nesse ponto já começava a estranhar a real intenção daquele cara, mas preferi acreditar que ele se importava realmente com meu trabalho idiota. Por um momento pensei que minha fama de boa trepada poderia já estar correndo a boca solta. De qualquer forma ele estava pagando o rum e olhando melhor pra ele até que uma trepada com ele não caia mal. É eu era uma devassa. Uma bêbada e devassa. Eu era feliz assim, muito feliz, juro que era feliz. Que merda, acredite existe felicidade nisso. Enfim, se não acreditam não me importo.De qualquer forma uma dose de rum, naquela hora do dia e de graça muito me agradava. Se teria que me socializar com um estranho que pelo menos fosse bêbada. Saímos da livraria e entramos no carro dele. Se ele estava mal intencionado pouco me importava. Na verdade estava mesmo interessada em saber se aquele estranho trepava bem. Ele me excitava de uma forma louca sem ao menos me tocar. Ele foi dirigindo pela cidade enquanto me dizia o quanto admirava meu trabalho de escritora. Uma conversa completamente entediante. Talvez pelo fato de que ainda não havia bebido nada naquele dia. Mas eu estava ali, firme na esperança de uma dose de bebida que ele iria pagar e por isso acenava com a cabeça enquanto sorria. ‘Que se dane o meu trabalho, vamos logo, quero beber. ’ Era meu pensamento. Pensamento esse que meu sorriso bem escondia. Apesar de que me agradava ter um fã. Era legal ter alguém babando no meu trabalho e que por conta disso ainda pagava uma bebida. Por fim, depois de dez minutos andando pela cidade, o que pra mim pareceu uma eternidade, ele parou em um elegante bar na parte nobre da cidade. Sentamos à mesa e o garçom logo veio nos atender.
_Uma dose de cuba libre caprichada no rum e uma de whisky com duas pedras de gelo.
_A cuba sem limão, por favor._Eu disse.
Sempre odiei o limão no rum. Pra mim o limão atrapalha o sabor do rum, que deveria ser acentuado ao máximo. Bom isso é o que eu penso. O garçom logo nos serviu. Aquele era um bar bacana. Bebi minha cuba em dois goles. O homem me olhou espantado e pediu outro. O segundo fui bebericando aos poucos e degustando.
_Então, ainda não sei o seu nome._Disse, apesar de que nem tinha tanto interesse assim em saber.
_Isso importa?_Perguntou ele com um leve sorriso no rosto.
 Aquele homem ficava cada vez mais interessante, parecia que lia meus pensamentos. Realmente o nome dele pouco importava. Na verdade saber o nome dele daria uma intimidade entre nós que não me atraia. Continuamos bebendo, não faço idéia de quanto bebemos. Mas que diferença isso fazia? Nenhuma. Falamos sobre todos os assuntos possíveis. Quanto mais bebíamos e conversava eu percebia que aquele homem estava longe de ser realmente um fã interessado no meu trabalho. Quando enfim ele disse seu real interesse.
_Eu sou escritor também. Estou querendo publicar na mesma revista que você, mas me disseram que eu teria que ter alguém que me indicasse. Por sorte encontrei com você na livraria, como já tinha visto uma foto sua, resolvi arriscar. Pode me ajudar?
Eu sabia que aquele drink me sairia caro demais. Não podia existir alguém que pagasse uma bebida despretensiosamente. Mas será que poderia ser pelo menos algo que me favorecesse também? Como uma boa trepada. Peguei minha bolsa, tirei uma nota de cinqüenta reais, joguei sobre a mesa e me levantei.
_Seu fodido de bosta, vai à merda!
Sai daquele bar e para minha sorte estava passando um táxi. Acenei, ele parou e eu entrei. Dei o meu endereço e pedi que fosse o mais rápido possível. No caminho fiquei pensando naquele homem. O mundo estava mudando, as pessoas sempre tinham algum interesse. Eu até poderia ajudar aquele homem, claro, poderia indicá-lo, mas ele não precisava dizer que era um super interessado no meu trabalho e me pagar uma bebida. É lamentavelmente alguns acreditam que tudo tem seu preço e isso me enoja. Ninguém me compra assim tão facilmente não. Eu me esquecera de lhe meter um soco na cara, isso que eu deveria ter feito. Um idiota querendo colocar preço na minha pessoa. Os valores estavam invertidos. Por mais que eu fosse não fosse uma mulher exemplar, ainda me sobrava algum orgulho. O táxi parou na porta de casa. Entrei e fui direto para a máquina de escrever. Escrevi toda a minha raiva que deixei de explanar com o soco que não dei naquele homem. Quando acabei, respirei profundamente e consegui me desligar do assunto. Fui até o armário, coloquei uma boa dose de Vodka no copo e me sentei no sofá. O mundo é sujo, mas eu não vou participar dessa zona.





quinta-feira, 5 de abril de 2012

Tereza meu nome


O bom escritor escreve de forma simples o que é difícil de entender. Ou talvez devesse ser assim. Meu nome? Tereza. Pobre de mim que me intitulei de escritora. Que grana se ganha um escritor? Porra nenhuma! Essa é a grande verdade. Por isso acho que vale simplificar. Claro que isso depende de que publico se quer alcançar. Mas eu, coitada, queria apenas o dinheiro para mais um trago de uma bebida qualquer. “vai arrumar um trabalho digno Tereza.” Era o que minha mãe dizia. Tola. Beirando a mais suja ignorância ela não entendia que aquilo era a única coisa que eu sei fazer de melhor. Claro, depois de beber. James meu amante me acompanhava. Acho até que estávamos juntos pelo gosto incomum pela bebida. Fosse lá qualquer uma. O importante era beber. Muitos me diziam que eu estava era me afundando. Mas eu definitivamente não era normal. E se todos um dia morreremos mesmo, que pelo menos eu morresse fazendo aquilo que era um dos meus poucos prazeres em vida. Eu gostava de pintar também. Isso é considerado arte. Lamentavelmente a arte é considerada vagabundagem, logo não me sobrava nada além da miserável vida de alguém que sobrevive da arte. Além disso, eu era uma bêbada, azeda e inconstante. James me considerava interessante. Mas isso se deve ao fato de que trepavamos compulsivamente tanto quanto bebíamos. Ah e tanto quanto eu escrevia. Talvez por isso ele ainda se interessasse por minha companhia. Eu me considerava boa na trepada. Sem regras, sem limites e sem quantidade. Se é que me entendem. Se não entendem, imaginem. Nós costumávamos ficar no quarto, que minha mãe havia me cedido por caridade, já que ganhar dinheiro não era minha sina. Eu saia dali apenas para mandar meus textos para uma porca revista que tinha os considerado alguma coisa para publicar. É, por mais que amasse os meus textos não os considerava assim tão interessantes. Mas escrever me fazia bem. Já James era um pobre coitado, que vivia da bebida que eu conseguia com o pouco dinheiro que ganhava e da comida que minha mãe nos fornecia, acho que pela boa vontade de seu coração. Minha mãe era simples, mas uma boa mulher. Sentia pena dela, por ter uma filha como eu. Uma bêbada, sem futuro e sem brilho. Escritora por ser a única coisa que sabia fazer na vida. Minha mãe era uma mulher nobre. Vivia como a sociedade dizia que era legal viver. Já eu não dava a mínima para regra alguma. Eu era uma fodida. A idade já estava me pesando. Meu rosto já deixava aparecer algumas rugas, assim como meu cabelo que tinha milhares de fios brancos. Coisa que eu não dava a menor importância. “pinta esse cabelo Tereza, passe um creme nesse rosto.” Minha mãe ainda tentava colocar em mim algum traquejo de mulher. Mas eu cagava para aquela bosta toda. Queria mesmo meus tragos de qualquer bebida e quantas trepadas me fossem possíveis. Eu era o que chamam de escoria da humanidade, vivia a margem do mundo e não me importava com ninguém além de mim. Passava na rua e ouvia as pessoas sussurrando uma para as outras “lá vai aquela vulgar.” E eu fazia questão de rebolar ainda mais meu traseiro caído. Aquelas pessoas não sabiam que eu era um verdadeiro fracasso. Assustava-me ver as suas opiniões sobre alguém que deveria passar sem a menor importância. Talvez elas lessem a revista que publicava meus textos. Nem sei, eu mesma não lia. Ao invés disso usava o dinheiro para comprar quantas bebidas mais eu pudesse. Eles não tinham interesse em me mandar um exemplar? Pois bem, eu também não tinha interesse em comprar. No fundo eu era uma doente social. Mas quem se importa? Minha mãe? Talvez. Mas nem ela mesma sabia mais o que fazer com aquela situação e me dissera que havia entregado para deus meu caso. Eu sempre perguntava “Quem é deus, mãe?” Ela se indignava e saia me xingando. Pobre da minha mãe que era obrigada a conviver com sua frustrada criação. Então falando ainda sobre a simplicidade que o escritor deve ter quando escreve, quero dizer uma coisa muito importante. Que se foda isso também.

Dançando com o desconhecido

A placa dizia “Love me”. Uma placa muito iluminada para aquela rua escura. Eu ainda não tinha entendido como havia chegado até ali. Tudo estava confuso demais. Pouco movimento do lado de fora daquele estabelecimento, apesar da grande quantidade de carros estacionados ali. Carros caros, bonitos e cheirando a arrogância. Talvez arrogância, pois jamais poderia na minha atual situação ter um. Eu invejei os donos dos carros por um segundo. Mas minha situação não permitiu mais de um minuto, meu pensamento era ‘o que estou fazendo aqui?’ Parei por um momento, fechei os olhos e forcei minha memória para entender como tinha chegado até ali. Como um filme voltando em câmera lenta as lembranças foram surgindo. Eu havia saído com um grupo de pessoas, sentamos em um bar, daqueles bacanas onde a cerveja custa quase o salário inteiro de um mês de trabalho suado. Lembrei-me então que já na quinta rodada de cerveja, um belo homem se sentou ao meu lado. Depois disso não me lembrei de mais nada. Nesse momento foi que me dei conta de que minha bolsa não estava comigo. Abri os olhos e me permiti olhar a minha imagem no retrovisor de uma daqueles carros estupidamente parados na frente daquela ridícula casa, com uma placa que cegava de tão iluminada. Meu estado era lamentável. Tinha um arranhado no pescoço e meu cabelo estava completamente desgrenhado. Foi então que me atentei para o fato de que quando algo parece errado a tendência é que, lamentavelmente, possa piorar. Havia no meu vestido marcas de sangue. Comecei a chorar até sem saber por quê. Em meio a todo o meu desespero para entender o que estava me acontecendo, não percebi que uma mulher havia se aproximado. Ela vestia uma calça justíssima, uma blusa que deixava sua barriga, invejável, de fora, maquiagem carregada no rosto e um cigarro na mão.
_Oi, está perdida querida? Seu estado é lamentável.
_Oi. Estou desesperada. Onde estamos?
_Estamos no parque central da cidade. O que te aconteceu?
_Oh! Eu não sabia que existia essa casa de show por aqui. Por sorte moro bem perto daqui, mas perdi minha bolsa. Você tem um telefone que eu possa usar?_ Disse não querendo responder que não fazia idéia do que tinha me acontecido.
_Tenho sim. Tome.
Liguei para casa, ninguém atendeu. Xinguei.
_Você sabe de algum chaveiro que eu possa ligar nessa hora da madrugada?
_Olha, se a sorte não te fez companhia até agora, acaba de se estabelecer. Meu pai é chaveiro. Espera que vou ligar para ele.
_Obrigada!
Eu não fazia idéia de quem era aquela mulher, mas aquele não era o momento certo para desconfianças. O homem não demorou a chegar. Fomos até a minha casa e ele abriu a porta pra mim. Peguei o dinheiro que ficava de reserva para emergências e o paguei rapidamente, agradeci e tratei logo de fazer com que fossem embora. Tomei um banho demorado e pude comprovar que comigo não havia acontecido nada. Eu não havia sido corrompida pelo estupro. Porém a pergunta permanecia ‘o que havia acontecido?’ Sai do banho, fui até a cozinha, preparei um pão com presunto e um copo de leite. Comi e então percebi que estava com muita fome. Fiquei um longo momento sentado à mesa, pensando nas possíveis desgraças que poderiam ter me acontecido naquela noite obscura. Quando por fim entendi que não me lembraria, resolvi me deitar. Meu corpo cansado agradeceu e meus olhos logo se fecharam. Dormi gostosamente na certeza de que qualquer coisa que tenha ocorrido naquela noite, o fato de estar bem devia ser o real foco naquele momento.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Bondade culpada


Eu trabalhava como encarregada administrativa de uma obra. Aquela foi uma experiência que jamais esquecerei. Como aquelas pessoas que trabalham em um esforço até mesmo desumano, conseguem levar suas vidas, em rostos marcados pela dor, com um leve sorriso? Jamais conseguirei explicar.
Existia um jovem na obra que para mim era diferente. Menino bom, coração puro e eu ávida por querer que todos dessem muito bem em suas vidas lhe dizia:
_Meu jovem você é novo, precisa pensar em estudar. Eu sei que a vida e a falta fazem isso com a gente, porem tente conciliar.
 Ele sorria num sorriso inocente e dizia:
_Sim, eu vou estudar.
Em um dia de muita correria na obra em que a técnica em segurança do trabalho não se encontrava, fui orientada pelo mestre de obras a ajudar aquele garoto para colocar o cinto de segurança e fixá-lo em algum lugar seguro. E lá fui eu. Olhei para um lado e para outro e vi um pilar de sustentação de viga bem ali atrás dele que trabalha sem se importar com sua segurança. Levei até ele o cinto, fiz com que ele o colocasse e pendurasse o gancho aonde eu pensava que seria seguro. E assim ele fez.
E o serviço continuava. Eu me afastei dali. A obra era em um galpão muito grande e poderia facilmente não se visto nas extremidades. Quando cheguei à outra extremidade me veio outro funcionário muito assustado
_Corre..._ Disse ele me puxando pelo braço
_O que houve? _ indaguei extremamente assustada
_Ricardo caiu do andaime.
Naquele momento meu coração gelou. Como isso poderia acontecer? Como se tivesse assas, sai correndo. Quando cheguei perto dele a visão que tive fez minha culpa aumentar, ele caiu porque eu não havia lhe indicado o lugar certo para pendurar o cinto. Ele estava banhado em sangue, seu braço quebrado não se segurava sozinho no ar e num impulso de esconder minha culpa lhe segurei pelo braço apoiado no meu ombro e o coloquei debaixo de uma torneira para lavar todo aquele sangue. Enquanto o lavava eu ia conversando com ele, pedi desculpas pelo meu ato e ele como se misericórdia fosse assessório de fabrica me olhou com um olhar de dor e disse:
_Eu estou bem. Essas coisas acontecem e tenho muito é que te agradecer pelo cuidado que está tendo comigo.
Eu não me contive, me virei e uma lagrima rolou. O que eu podia dizer? Ele era muito maior do que tudo aquilo.
Arrumei um carro, o mandei para o hospital e ele foi me agradecendo mais uma vez.
Aquela imagem nunca me saiu da cabeça. Como ele numa dor que julgo insuportável poderia ainda me reter alguma consideração? E eu naquele momento entendia que um gesto pode mudar tudo. Ele que estava acostumado aos maus modos da pobreza, recebeu de mim um cuidado culpado, porém que para ele fazia muita diferença. Naquele momento ele fazia de mim mulher, eu me tornava sem saber, adulta... Alguém!
Ele teve que operar, ficou muito tempo com o braço engessado. Sofreu coitado! E não sei se é como fardo para meus ombros culpados ele continua a me agradecer pelo cuidado que tive com ele.