sábado, 31 de dezembro de 2011

Amor próprio

Quando me deparei com o olhar me arrepiei o corpo por inteiro, era denso, intenso, verdadeiro.
Não procurei paixão, razão ou entendimento, apenas sentia o fluxo do meu sangue pelas minhas veias.
Nenhuma palavra precisava ser dita... Nenhuma verdade precisava ser entendida.
Eu sonhei um sonho longo de alguns segundos.
Eu viajei pelas margens mórbidas e avassaladoras do meu coração.
Pensei em possibilidades para meus membros pararem de tremer, mas não existia o que temer.
A profundidade daquele momento envolvia apenas sentir.
Eu em minha profunda melancolia me permiti sonhar aquele instante como se nada mais existisse de importante a minha volta.
Luzes se apagaram, vozes sumiram... Apenas aquela nevoa de sonho existia naquele momento.
Uma lagrima rolou sem que eu pudesse conter ou até mesmo quisesse conter.
Era forte. Muito mais forte do que posso descrever.
Apenas abri os braços em pensamento e deixei a brisa me inebriar.
Quando pude dar por mim estava lá, tão longe que não poderia voltar. Mas eu não queria voltar, queria ficar e continuar.
Meus lábios emudeceram. Meu coração era inteiro, era todo aquele momento. Minha alma se perdia, querendo se perder.
Silêncio. Minha vida por um fio e o gosto do perigo me persuadia e me levava. Meus pés não ousavam parar.
Quando eu pensei em entender vi que era tarde demais e aquilo era o fim.
Quando eu pensei em parar senti que meu corpo não me obedecia mais.
E eu calada, num silêncio doentio me deixei levar.
Por mais que fosse arriscado eu queria estar ali, eu queria sentir ali, me entregar ali.
Foi nesse momento que eu percebi como se estivesse envolta em profundo mistério que aquilo era amor. Descobri que sabia sentir e me permitir e foi nesse exato momento que me vi só e encarei que não existe amor maior do que aquele, que temos por nós mesmo.
Felicidade foi o próximo sentimento que seria extenso demais para continuar a descrever. 

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Genuinamente deus

Eu queria entender o que as pessoas pensam sobre fé, sobre religião ou até mesmo sobre deus.
Por um tempo tenho evitado falar sobre isso, mas ando vendo muita incoerência a respeito.
Agora deus tem sido medido por quanto se tem no bolso, por quanto você é mais perfeito que o outro ou até mesmo por quanto você sabe mais que o outro apontar os dedos.
Eu queria entender se ando lendo evangelhos diferentes de algumas pessoas.
O amor que vejo na Bíblia não significa essa coisa vazia de se eu acredito mais que outras pessoas ou não, conheço o evangelho de carinho. Que me ensinou que errar é divino, pois me aproxima de deus.
Por diversas vezes me peguei tendo a imaginação de um deus carrancudo, sisudo apontando para mim e dizendo que sou o maior erro que ele poderia ter cometido e em outras me pego tendo a imaginação de um Deus sorrindo e dizendo ‘que legal te coloquei ai no mundo cheio de defeitos e adoro te ver perdido por conta disso na busca da perfeição’... Toda essa minha imaginação por conta do que as pessoas falam.
Eu não acredito num deus em forma humana, severo, ditador ou sádico.
Quando vejo uma planta linda perdida em meio ao seco do nordeste eu vejo deus.
Quando vejo uma pessoa ajudando a um cego ou idoso atravessar a rua eu vejo deus.
Quando uma criança nasce eu vejo deus.
Quando alguém pensa nas crianças da África morrendo de fome e desnutrição, cheias de doenças e ajuda, eu vejo deus.
Quando eu vejo o sorrido de uma criança sem motivo algum, eu vejo deus.
Descubro então que é muito fácil ver deus, pois nosso mundo é feito de coisas belíssimas e nesse momento me conforto na imagem que tenho dele.
Existem muitas formas de adorar a deus. Para mim basta cultivar um jardim, cantar uma canção para alguém triste, dar a mão para um necessitado, adotar uma criança que precisa de um lar. deus se encontra para mim em todas essas ações.
Com o tempo eu fui percebendo que não se precisa de paredes para existir conexão com o altíssimo, precisa de coração puro, boa vontade e gentileza. Bons sentimentos, verdades inteiras e amor à vida.
 O amor! É nesse que podemos ver mais ainda deus. O amor de forma ingênua, graciosa e até mesmo infantil. Quando somos crianças amamos de forma displicente, não nos importamos com palavras mal proferidas, não esperamos ninguém pra nada, brincamos com qualquer coisa que se esta ao alcance de nossas mãos e somos genuinamente felizes. Mas crescemos e descobrimos que o mundo dos gigantes, que era nossa visão quando criança dos adultos é torto. Mas quem consegue trazer consigo aquele amor infantil, entende que não é preciso sacrifícios para se aproximar de deus e sim coração puro e amor disponível para quem precisar.
No momento em que descobrimos a real existência de deus podemos seguir mais tranqüilos, na certeza de que ele se encontrar ao alcance do nosso entendimento.
Eu queria, realmente queria que as pessoas parassem de teorizar deus, parasse de lhe dar formas doentias. Eu queria que as pessoas saíssem dos confortos de suas igrejas, templos, ou seja, lá aonde se vai dizendo que é para adorar a deus, achando que ao alcance de seus microfones é o suficiente e fosse para os asilos ouvir um idoso, irem a um orfanato e adotar uma criança que precisa de um lar, irem à África e doar tudo que tem para ajudar uma família que com certeza precisa.
Que as pessoas parassem na rua para ouvir a historia de um sem teto, que desse a mão para um cego no sinal para atravessar a rua.
Mas eu entendo que teorizar gasta muito tempo e por isso essas pessoas não estão disponíveis.
Na ganância das religiões em busca de fieis iludidos é preciso explicar que só existe um céu, a diferença é como se trabalha para alcançá-lo.
Desculpem-me se pareço severa com relação a isso, mas é que a mensagem de amor vai alem da roupa que se usa, do dinheiro que se tem no banco ou até mesmo de quão bonito você fala. A mensagem do amor esta em ações altruístas e sentimentos genuínos.
Quando as pessoas entenderem que existe muito mais alem de ficar discutindo o que agrada ou não a deus, quem sabe possamos ajudar mais o próximo e viver com mais dignidade.
Eu fico aqui em palavras, com nó na garganta de lagrimas que querem escorrer pelo meu rosto, suplicando mais verdade nas ações, mas dignidade nas palavras e mais amor no coração.
Um grito indignado e solitário para a conscientização do verdadeiro amor que deus quer que tenhamos uns pelos outros. Quem sabe nesse mar de pessoas que existem pelo mundo, uma alma pura possa me ouvir e juntos possamos somar mais um grão na imensidão que é a necessidade humana por aquele amor menino, ingênuo e displicente que encanta a todos quando somos crianças.
Amor significa no nosso dicionário afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, inclinação, atração, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo, libido, etc... Que as três palavras iniciais possam fazer mais sentido, pois tenho certeza que é desse amor que deus sempre falou. 


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Orgasmos múltiplos


Eu tenho orgasmos múltiplos de pensamentos quando estou tomando banho.
Não sou uma pessoa convencional nem na hora de tomar banho, tenho método para isso... Aquele sonho de todo homem de tomar banho com sua amante, comigo não rola... Digamos que não dou prazer a um homem na hora do banho, se entro no chuveiro é para tomar banho, não consigo fazer outra coisa.
Por muito tempo isso foi meio que um tormento pra mim, ‘como assim você não consegue transar no chuveiro, coisa mais gostosa do que dividir sua intimidade com alguém debaixo de uma água convidativa’, isso é bem sensual eu sei.
Quando de repente me deu o estalo, como se eu descobrisse a coisa mais espetacular do mundo, meu banho e minha sensualidade embaixo do chuveiro é toda do meu pensamento.
Parece louco isso, mas quando estou ‘purificando’ meu corpo das impurezas do dia consigo ter os melhores ‘insight’, consigo analisar coisas que no correr do dia me é às vezes impossível. No banho lavo minhas ‘torturas’ e consigo visualizar minhas verdades.
Pronto tenho orgasmos múltiplos no banho com meus pensamentos.
Eles tocam meu corpo e eu me sinto possuída da melhor sensação que existe, me sinto imortal e guerreira.
Ele me ensaboa e eu me descubro inteira, amada, acompanhada e quase virgem.
Faço cena pra ele... Ele em troca me mostra o paraíso molhado do entendimento.
Meu corpo obedece como se fosse impossível negar a essa ‘loucura’ insana de sentir prazer com meu pensamento.
No banho eu tenho o melhor amante que eu poderia um dia almejar.
Meu pensamento é meu namorado, amigo, companheiro, cúmplice de orgasmos múltiplos, meu marido, meu amante e minha verdade.
Com meus pensamentos eu não tenho medo de me entregar no banho, onde toda e qualquer verdade da aparência aparece sem aquela pequena luz sensual. Tudo fica ali escancarado à luz inteira para não se perder nenhum detalhe da assepsia. E eu não tenho nenhum pudor, me toco sem medo de interpretações, pois meu pensamento é livre.
Durante meu banho vou a diversos lugares... Conheço todos os habitantes de Marte, já estive na ilha de ‘Lost’, beijei Jim Morrison e guerrilhei ao lado de Che Guevara. Sim no meu banho eu vou a lugares inimagináveis e descubro a doçura que ser inteira a um momento sem medo.
Ter orgasmos múltiplos é maravilhoso, com seu melhor amante então... É a sensação do infinito. Meu pensamento é o melhor amor que eu poderia almejar.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Mulher bonita


Quem foi que disse que mulher bonita não pode ser inteligente?
Eu tenho curvas, peitos pequenos, mas sou verdade.
Meu intelecto não se mede pelo meu currículo corporal ou minha singular beleza facial.
Levante o dedo, acuse e bata com dolorosas palavras, Mas não tenha medo da retórica.
Não se engane pelo meu rosto angelical ou minhas formas esculturais, aqui dentro onde minha massa encefálica é do tamanho de sua arrogância existe um conteúdo indecifrável para sua intolerância.
Olhar de princesa, adeus de mis e corpo do tamanho do seu desejo.
Engano puro se isso me apetece ou aguça a libido.
Sinto-me próxima a náusea com teu olhar tão pequeno por sua doença nas córneas cerebrais.
Quem foi que disse que mulher bonita não pode ser inteligente?
Eu entendo, sua mediocridade te permite apenas o visual pobre da massa que tudo generaliza.
A burrice agora tem cor e esta no cabelo em tom de sol?
Rio com deboche de tua ‘valorosa’ ignorância, prefiro em intimo, porque é desnecessário até mesmo desenhar para a sua idiotice a grandeza de meus pensamentos com relação a sua equivocada admiração ao meu intelecto.
Na certeza de sua pouca evolução mesmo com o pesar do tempo, me calo.
Nada é valido quando o tamanho de sua dignidade se mede pelo tamanho da sua genitália.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Cinderela

Eu não levo jeito para Cinderela!
Não estou esperando o príncipe encantado e não acredito em contos de fadas.
Quero realidade, homem de carne e osso. Sei que ele tem defeitos, e isso eu também tenho.
Sei que ele é inseguro, acorda com bafo, remela nos olhos e com o cabelo todo pra cima. Sei que qualquer dia da semana ele chegará estressado, porque sim. O homem que quero é trabalhador normal. Sim, eu não quero fortunas, quero um amor, dinheiro? To cheia de forças para conseguir o meu próprio, mas homem de verdade que vai me amar, pelo que sou, isso é tão difícil.
Se existe alguma coisa parecida com o conto de fadas, o que quero, é aquele acordar ao lado, preparar o nosso café e nos admirarmos pela grandeza da escolha bem feita, mesmo que em silêncio.
Quero alguém de verdade, com uma história normal e uma vontade de viver real.
Uma vez escutei a seguinte frase: "por quem nos apaixonamos não escolhemos, com quem casamos escolhemos sim."
Aprendi com o tempo a ser seletiva, beijos e amassos são muito fáceis e pra isso estão todos aqueles que avaliam o que vêem, pelos olhos apenas.
Quero alguém que olhe lá, dentro de mim, e diga: 'você deve ter uma historia difícil, não deve ter sido fácil chegar até aqui e por isso obrigado por me escolher'.
Não estou preocupada com surpresas inesperadas, homens são muito objetivos e eu muito admiro isso. Sinceramente, eu também não sou muito de declarações mirabolantes.
Quero racionalidade, que suas promessas sejam bem pensadas, até mesmo porque não quero ninguém refém de suas palavras. Que seus elogios sejam profundos, mas com aquele olhar sincero de admiração.
Uma coisa gosto muito! É ouvir que estou linda! Porque o homem que eu quero, vai olhar o valor da minha alma, e por isso, sempre que possível, escutarei que sou linda.
Não precisaremos gostar exatamente das mesmas coisas, mas eu quero um homem que compreenda o meu gosto e no mínimo o respeite, pois isso ele pode esperar de mim.
Não sonho alto não, mas tenho aqui dentro, pra mim, que somente o amor não mantém a relação, digo ainda que admiração valha mais do que amor, por isso muitas relações de amizade se tornam amor. Obvio que convivemos com os amigos por alguma admiração e por isso aceitamos muitas coisas por mais que não gostemos.
Enfim, eu posso ficar esperando por muito tempo, mas em algum lugar existe alguém ainda que valorize mais a sinceridade do que uma demagogia amorosa

Ridiculo


             Eu que tenho as fobias mais ridículas, não tenho a de abrir meu coração.           Preciso rasgar essa manta que me fecha e sei que escrever pode muito ajudar.
            Não vou e nem posso usar palavras bonitas ou procurar coisas interessantes aos outros. Vou abrir a cortina do meu teatro.
            Sim, nossas vidas são como o teatro, ora é drama que passa, ora é comedia. Às vezes dá para pensar que é só lá que ficam os aplausos e sorrisos.
            Sempre me afeiçoei por atuar, talvez porque interpretar a comédia e o drama alheio seja menos pesado. Por vezes me esqueço que essa passagem nada mais é do que atuar na busca da evolução. A diferença é que quando se vai ao teatro da sua própria vida existe uma platéia e você não está incluído, porque é o protagonista.
            Procuro sempre conceder aos outros o poder da falha. Sim, falhar é um poder.   Com as falhas podemos ir além, algumas pessoas aprendem apenas quando o chicote lhe corta as costas com as experiências da vida. Existe quem prefira aprender com os erros do próximo. Agora me diga: que emoção existe em se espelhar sempre?             Eu que muitas vezes fui chicoteada por me permitir viver minhas experiências, posso dizer que vale mais assim.
            Essa que escreve é alguém cansada da busca e de nada encontrar. Mas busco, sem parar, sem cansar, sem titubear. Se na próxima esquina vou chorar será por frustração de ter lutado e não alcançado.
            Hoje escrevo com lágrimas enrustidas por trás das minhas pálpebras, elas querem sair e eu não deixo. Pode me chamar de algoz de minhas lágrimas, minha revolta me permite ser agressiva se assim acontecer.
            Não quero se compreendida, quero apenas que me deixem viver sempre pelo menos podendo escrever. Nem que seja em papel e caneta.
            Sei que minhas palavras confundem. Perdão por ser tão hostil, mas atuar aqui, do lado de cá, não tem sido fácil. Queria eu poder estar lá atrás, onde os atores usavam mascaras ao se apresentar. Infelizmente a vida não nos dá essa escolha, uma hora é preciso mostrar as garras. Como não posso usar máscaras, abro meu peito, rasgo o véu de meu íntimo e digo sem dor pesando nos ombros: viver dói, dói muito!   Se essa é a experiência para a evolução talvez eu profanasse dizendo que não queria tal coisa. Mas concordo que as chicotadas são melhores e enquanto vou apanhando, pelo menos consigo aprender.
            Assim seja, amém!   

Tenho saudade

            Tenho saudades...
            Saudade. Ouso dizer que palavra mais brasileira não existe.
            Sinto saudades dos lugares por onde passei e das pessoas que conheci que hoje não conheço mais. Sinto saudade dos amores vividos que hoje não amo mais. Saudade.     Ah saudade!
            Saudade de uma infância que não era minha, mas vivi.
            Saudade da inocência de adolescente que não almejei, mas existiu.
            Saudade das repressões, das faltas, das abundâncias...
            Saudade, simplesmente saudade.
            Saudade é bom, nos faz lembrar. Lembro-me de coisas que até mesmo seria a outros impossível lembrar.
            Por vezes me peguei lembrando de fatos que não sei a causa, porém aconteceram.
            Tenho saudade de amigos que não são mais amigos... Saudade pelo muito que me acrescentaram na jornada que é a vida.
            Saudade de brinquedos que não eram meus, mas os tive.
            Saudade de televisão... Por muito tempo não tive em casa e desse período sinto saudade dela.
            Saudade dos empregos que não voltam mais, das pessoas que estavam lá, das experiências vividas.
            Sinto saudade, porque saudade me cai bem. Gosto da nostalgia que envolve essa palavra.
            Tenho saudade de tudo, mas não quero voltar lá e reviver não. Passo...   Obrigada!   
http://www.youtube.com/watch?v=PL8-EVS1G2A&feature=related  

Delicioso vicio


Como descobre que se esta completamente viciada por algo? Pois bem, para mim não é difícil perceber.
Depois de um dia cansativo, quando as pressões me sufocaram por mais uma vez, meu corpo pede sossego e um sono revigorante. Eu me deito e descubro que não conseguirei dormir, pois as palavras brotam. Viciei-me na escrita. Definitivamente sou dependente desses momentos de viagens sem fim, aonde sou quem quero e do jeito que quero.
Quem me lê pode perceber que trago comigo a necessidade de falar, falar sobre tudo, sobre qualquer coisa e às vezes nada. Sim falar é algo fundamental para mim.
Ando na necessidade de contar minhas desventuras cotidianas. Talvez porque dentro de mim bata uma certeza de que muitas pessoas se identificam com a vida simples que levo. Se você passar por mim, dirá: “Lá vai uma pessoa comum em um dia comum.”
Há quem fique triste com a simplicidade de minha vida. Eu sei que para muitos tem coisas mais bacanas pra fazer numa sexta cansativa, do que sentar ao computador e escrever...escrever...escrever. Desafio que me provem que essa também não é uma coisa boa a se fazer.
Quem tiver coragem que peite a divindade que é escrever. Às vezes me sinto uma deusa, tendo a capacidade de escrever tantas coisas, seja me criticando, criticando o sistema ou falando de algo fictício que mora dentro de mim. Oh, eu sei que isso é tolice. Se puder tire de mim então.
Hum... Sinto um tom arrogante nessas minhas palavras. Então entenda que sou uma pessoa simples que vive em um mundo fictício perfeito e quem sabe, se conseguir viajar nessa atmosfera de devaneios possa entender que se engrandecer é simples. É preciso ter uma auto-estima despretensiosamente arrogante.
Em tudo na vida tem que haver uma troca. Assim funciona com o íntimo. Eu acredito nele, mesmo sabendo que é bizarro e ele, em troca, me fornece essa arrogância simples.
E aí pode se perceber que escrever é realmente algo divino. Você fala e fica nisso. Algumas pessoas te param e dizem: “Aquilo que você escreveu não é legal.” Tranqüilo. Aceito as críticas, mas naquele momento o que eu precisava era apenas dizer e disse. Depois não fico triste, pois já estou vazia.
Passo. Chega. Se puder entenda, se não, reflita e se ainda assim for difícil use a imaginação, porque a escrita ninguém me tira.

Desnecessárias palavras


Eu me tornei só.
            Essa foi uma escolha. Sou solitária nas multidões. Juro que isso não é ruim...
            Acredito que na morte é assim mesmo que funciona. A multidão dos que choram, enquanto você está sozinho na transição.
            Gosto da solidão! A solidão ensina silenciosamente como é bom ser ouvinte. A solidão me ensinou como é bom ser coerente. Ela nos ensina a observar.
            Seria insano menosprezar o que está à minha volta. Porém mesmo com tudo isso, a solidão ainda é minha melhor companheira. Com ela as verdades são só minhas.
            Poesia seria desvendar os mistérios da solidão. Mas mistério é mistério e não precisa de explicações.
            Como não existe explicação para o meu mundo, o que rodeia vivo com a intensidade de cada dia. Sim, cada dia é completamente diferente do outro e se vive sem expectativas. Dirão: que loucura viver sem expectativas!
            Loucura é não se ter um estilo de vida bem resolvido e viver amargamente dias de vida não desejados.
            Eu criei expectativas minhas. Espero de mim o que desejo.
            Meu coração é romântico, quem disse que na solidão não tem poesia? Aqui vislumbro a delicia que é a vida. Hum, como é bom viver!
            Para as loucuras de minha mente por conta da solidão não devo explicação. Doente seria querer entender o mistério que reside dentro de mim.
            Vagando pelas ilusões da juventude almejei alguns degraus que a solidão me fez entender a falta de possibilidade.
            Na solidão sou mais eu. Amo-me mais. Desejo-me mais. Nela aprendi a conversar comigo e a entender meu lugar.
            Como não espero ser entendida, fico aqui nessa viagem desenfreada com a certeza do desnecessário dessas palavras.

Os velhos também amam


            Era outono. As folhas caíam sem pudor como os dias se vão em nossas vidas.
            Da janela do apartamento Filomena olhava com lágrimas nos olhos.
            Seu marido havia falecido e naquele dia estava fazendo um ano da despedida. Como doía olhar em volta e enxergar apenas o vazio que a falta dele lhe deixara. Mas a vida seguia, ela tinha que seguir.
            Aquele dia foi atordoante, por vezes aniversário de perdas são ainda mais marcantes do que a perda em si. Os anos por vezes nos dão a sensação de eternidade.
            Desde a morte de seu marido Filomena se voltara para a solidão, seus filhos já crescidos não podiam ter a dimensão de toda a sua dor. Uma dor que doía calada e solitária.
            E os dias, meses e anos se seguiram assim. Todo aniversário da despedida era uma dor incansável.
            Passados dez anos, Filomena ainda sentia a perda de seu amado. Mas a vida mudara. Ela havia se inscrito em um grupo da terceira idade. Seus dias corriam cheios de atividades e outras pessoas surgiram em sua vida.
            Naquele ano estavam todos envolvidos na festa de final do ano. Essa festa era considerada por todos maravilhosa e sempre era muito esperada. Filomena como todos, estava ansiosa. Aquela seria uma possibilidade de um fim de ano diferente.
Em casa enquanto se arrumava para sair, abriu o guarda roupa viu uma camisa de seu amado pendurada. Ela deixara lá para sempre lembrar sua existência. Uma lágrima correu e ela pensou que ele poderia estar com ela naquele momento. Logo se recompôs, acabou de se arrumar e foi para a festa.
            Chegando a festa Filomena logo começou a conversar com todos. Riam, brincavam, dançavam. Filomena não percebeu um olhar distante que tanto a observava. Em certo momento em que estava parada num canto do salão, um homem lhe convida para dançar, ela aceita. No meio da dança começam a conversar. Carlos era um senhor de setenta e cinco anos, alto, moreno e muito cheiroso. Filomena estremeceu pelo seu toque, as mãos de Carlos eram muito macias. Logo lhe vem à mente seu falecido marido. Ela desvia os pensamentos. Filomena não concebia amar outra pessoa, muito menos aos sessenta e nove anos. Com esses pensamentos deu a desculpa de que estava cansada e pediu para parar de dançar. Carlos imediatamente obedece e caminhou com ela até uma mesa que estava próxima.
            Sentados eles começaram a conversar e Filomena foi gostando demais daquele desconhecido. Carlos era gentil, doce e conversava muito bem. E assim ficaram o resto da festa. Quando Filomena resolve ir embora Carlos pergunta se pode acompanhá-la até em casa. Ela, por toda a gentileza dele, aceita.
            No caminho continuaram a conversar. ‘Como Carlos é agradável’, pensava ela.
            Chegando em casa ela se despede e Carlos lhe pede o telefone. Ela para por um momento, reflete e lhe diz:
            _ Carlos você é um homem muito agradável. Sei bem de suas intenções e me sinto até mesmo lisonjeada. Porém sou uma viúva de respeito. Tenho dois filhos que não gostariam nada disso. Fui muito apaixonada por meu marido e mesmo depois de dez anos ainda sinto sua falta. Não vejo onde outro homem poderia preencher esse espaço. Aos sessenta e nove anos acho bastante complicado que nossa relação possa dar certo. Espero que você possa me entender.
            Carlos franze a testa, mas continua com um olhar encantado por Filomena, respira fundo e diz:
            _ Respeito sua posição e jamais faria algo que pudesse te ofender ou até mesmo ir contra sua filosofia de vida. Mas se me permite, gostaria de lhe deixar uma reflexão.
            _ Claro. _ Diz Filomena ainda mais encantada por Carlos por conta de sua delicadeza.
            _ O que seria de nos se pudéssemos amar apenas uma vez? Sou velho e também tenho filhos, mas lhes ensinei que antes de ser seu pai, sou ainda indivíduo.       Ante sua resistência fica meu lamento, porém nunca a falta de esperança.     

Divisão


            Eu tenho sentido coisas estranhas.
            Queria muito somar...
            O que vejo, no entanto é uma má divisão. Eu que sempre foi a porta-bandeira da independência, hoje carrego o escudo da divisão.
            Nos relacionamentos é isso que acontece. Em qualquer tipo de relacionamento, às vezes carregamos o que não podemos carregar.
            Pena que fatos como esses são fardos insuportáveis, pelo menos para mim.
            Acostumada ao pouco, muitas das vezes a faltas que nem ouso contar, me sinto mal por fazer outros dividirem o pouco comigo.
            Ser um fardo nunca é legal. Quem disse que o amor não tem limites? Costumo dizer que até mesmo a sacanagem que é feita com alguém tem limites.
            Eu sou fadada a solidão mesmo em meio à multidão. Gosto do silêncio do nada. Acho-me na falta. Eternizo-me na falta.
            Talvez essas sejam barreiras que somente meu ego visualiza, mas sou boa ouvinte dele. O orgulho não pode ser duro demais, mas as várias nuances que podem se apresentar de forma suave por vezes ajuda muito.
            Eu não sou poeta, escrevo porque escrever me esvazia.
            Escrevo porque escrever acalenta.
            Prefiro falar de coisas difíceis. Coisas simples são para serem admiradas e isso eu já aprendi e não julgo difícil a qualquer um o mesmo.
            Gosto de falar dos apertos que me vem à alma e que por mais densos que sejam, todos em algum momento já experimentaram sensações parecidas.
            Podem parecer vagos meus sentimentos, mas são necessárias linhas pequenas para se falar do íntimo. Não se pode dar ao alheio o prato cheio de sua dor. Eu que em linhas tortas não tenho medo de, quem sabe, ser entendida, escrevo porque escrever me acalma.
            Nessas intrigantes vagações deixo uma proposta aos caçadores de patentes: inventem um jeito de vender paz em saquinhos bonitinhos e tenham a certeza de uma riqueza infinita. Quem nunca se viu querendo comprar paz em saquinhos pare essa leitura aqui. Podem se certificar de que sou a primeira a dar minha mão à palmatória por isso.
            Na alma trazemos duvidas cruéis. Nascemos assim, parece que Deus brinca de plantar enigmas na hora de moldar nosso corpo. Seria ele sádico? Talvez! Eu que na intensidade dos sofrimentos não vou ousar querer entender.
            E nesse vai e vem das brincadeiras de ciranda que é a vida, hoje ousei dizer que gosto dela. Perguntaram-me o que havia em meu pulso e eu disse “é tatuagem!” “o que está escrito?” Respondi: “Vida, com o símbolo do infinito em baixo.” Choquei com o questionamento a seguir: “Você é esotérica?” Ri por dentro e como se não pudesse acreditar no que meus lábios desobedientes disseram, falei: “Não. É vida, porque amo o desafio que ela é.” Aquela conversa foi realmente surreal. Pus-me a pensar. Eu só posso realmente amar a vida. Cada dia vivido é um dia perdido e eu nunca me canso de tentar.
            Essa manhã foi realmente estranha, mas sou teimosa e dela tirei valiosas reflexões que me levam a escrever nesse momento e que com certeza carrego eternamente.
            Quanto à divisão, entendo que talvez essa seja uma coisa que preciso aprender a admirar.     

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Sou verdade


Quando olhei a minha volta, me vi sentada naquela mesa.
Comida estranha, pessoas desconexas... O vazio rondou minha alma. Percebi que, definitivamente, não pertencia aquele lugar.
Meu pai esboçou uma tentativa de dizer-me algo! Eu, sequer escutei.
Minha mãe, em sua ingênua sujeira, deixou-me por diversas vezes beirando a náusea. Não consegui erguer o garfo até a boca para comer a comida preparada por alguém que desconhece a assepsia das mãos.
O silencio das palavras inteiras mal ditas, me consumia por dentro. Vi-me numa ilha, rodeada por aquelas pessoas, que meu sangue não gritava por laços.
Descobri sem querer o vazio por dentro... Porém, eu, não senti pena de mim. Senti foi uma completa falta de necessidade daquilo tão convencional.
Parei ali instantes longos, minha vontade era partir o mais rápido para onde eu pudesse respirar ar respeitável.
Não conseguia me fixar, em nada, por inteiro. Por dentro eu era aquele distanciamento-perto.
Minha sobrinha corria pela casa, dizendo, com sua sabedoria infantil, coisas que eu gostaria muito de guardar eternamente, mas só conseguia me sentir só e por isso de nada me lembro. Esqueceria-me, até mesmo, de seu sorriso, se não fossem as lindas fotos que tive estomago para tirar-las.
Aquela soma de coisas vazias, aquele lugar que causou-me a pior nostalgia que sonhei um dia ter, aquelas pessoas que eu não reconhecia... E eu ali me sentindo longe, sem passado, sem razão...
Mirei o presente e não o encontrei. Mirei o futuro e me deparei, com a lastimosa sensação de que sem passado não se pode construir nada. Mas não me compadeci, queria apenas ar fresco que lá fora com certeza existia.
Procurei as mais idiotas desculpas para ir embora. Disse coisas que não consigo me lembrar, apenas precisava fugir, mais uma vez, daquele lugar.
Quando enfim consegui sair, entendi tudo... Os pássaros cantavam lindamente naquela tarde ensolarada e, vi-me livre da melhor forma que poderia estar... só!
Fiz os mais loucos tratos com a minha alma, briguei internamente com meu lado bom e me descobri má, ruim e seca. Mas percebi que nada disso faz de mim alguém pior.
Senti-me por inteira, humana! Podendo assumir que naquele quadro não cabia a minha pintura, tão complexa, para toda aquela obviedade.
Descansei na certeza de que, pelo menos, sou verdade.